Figueiredo, Carolina Ferreira de
Este trabalho tem por objetivo analisar a cultura visual presente em Israel e na Palestina durante as décadas de 1970 e 1980, através da singular interação entre o universo das imagens e a luta política da Palestina. O estudo parte da preocupação em compreender territórios e alcances da visualidade palestina, especialmente em decorrência da ruptura ocasionada a partir de 1948 – ano de criação do Estado de Israel, conhecido Nakba – e seus diversos desdobramentos. Visando aprofundar a compreensão das reverberações visuais na experiência política de artistas (e) palestinos/as, serão exploradas imagens de apelo cotidiano e de grande alcance, em especial charges e ilustrações, produzidas pelo artista palestino Abed Abdi entre os anos de 1972 e 1982: as primeiras, publicadas no jornal Al-Ittihad (1972-1981), e as segundas produzidas para a revista literária Al-Jadid (1980-1982). O recorte temporal escolhido ambienta um momento de uma rica produção do artista, devido suas posições ideológicas de esquerda, a filiação ao Partido Comunista de Israel e os estudos formais realizados em Dresden, elementos fundamentais da biografia de Abdi. Sua produção crítica e marcadamente política proporcionam retratos de um cenário complexo das relações entre Israel, Palestina, outros países do Oriente Médio e do restante do mundo no período. Assim, no entremeio da história e arte, visualidade e política, são abordadas temáticas como a construção identitária e historiográfica do Nakba, as produções artísticas do Nakba, a construção da Nação, a inserção do Comunismo, a natureza dos periódicos, a presença de uma intelectualidade palestina, entre outros. O problema, enfim, consiste na hipótese de uma centralidade do visual no processo de afirmação, discussão, enfrentamento e expressão das causas palestinas no século XX. Nesse cenário, as imagens produzidas por Abed Abdi durante as décadas de 1970 e 1980 encontram relevância ao fornecer um repertório visual que discute a Palestina em termos políticos, não apenas em suas relações com Israel e com um Mundo Árabe, mas a partir de seus próprios termos.